26 fevereiro 2011

Frutos da Mente


O suicida

Uns olhos que vira

Triste celibatário

Espehos

O menino sem face

Tão somente esperança

Equivoco

Sonhos

Por tantos Caminhos








O Suicida

    O gélido impacto da água em sua pele, revelava o quanto aquela noite era fria. Em sua mente, tudo transcorria fugazmente: a água, que hipodémica lhe trazia dor à pele e até

aos ossos, o mergulho do qual não conseguia sair, o momento em que saltou em direção á água...
    Estaria afogando seu sonhos? Sim. Mas tudo agora já está feito.Seu ego descia até as profundezas da gélida água, que continuava a amofinar seu espírito. A água que descia à sua garganta, atenuava e mitigava seus nervos ao se apoiar no chão decadente da desistência, os olhos tentavam ver o céu... Como queria ver o céu! Mas não podia. 

    Sua alma estava mergulhada nas tristezas de sua vida, que o levava àquele destino. Não queria pensar na realidade daquele instante, não tinha tempo! Momentos e tempos de sua vida, se passavam em sua mente, se passavam também prognósticos do efeito que a sua decisão causaria nas pessoas que viviam à sua volta...  
   
   Pensava em se arrepender, mas logo recuava. Decidiu então não pensar em nada,
e concentrar seu intelecto na água fria que ainda lhe incomodava... 

   Enfim a bonança, não lhe doía mais nada, não lhe afligia mais nada... Somente a água que bebia e a correnteza das águas que lhe levavam pra um lugar incerto e desconhecido... 

   Não sentia mais nada...
   Enfim, não sentia mais nada...


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Uns olhos que vira

Uns olhos que vira


Olhava ela, os pingos de chuva que demasiado confiantes vinham e arrebentavam-se no chão. Isso a fez lembrar dos olhos que vira.

    Ela vira uns olhos que mostrava ao longo caminho; não se sabia para onde ia ou donde era; sabe-se só que este caminho atraía seus olhos. Tanto penetrava os seus olhos naqueles, que a escuridão cercou-a deveras.

    Vira também uma expressão ao mesmo que tenra, dolorida. Teve ela compaixão.

    Vira, que transluzia no rosto, os pulsares de um coração. Transparecia também que estes pulsares eram trépidos e insanos.
   
    Sentiu ela a dor da compaixão e agora da humilhação.
   
    Os olhos que vira, a inquietaram em profundo.

    Tais foram os olhos que vira.
       
    Ela viu os olhos de uma mulher no espelho.

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O Menino sem face


Era ele magro, a ponto de linha; usava bermudas largas e grandes
e carregava volumosas orelhas que dependuravam-se em seu corpinho fino e vulgar.
O menino, por mais estranho que pareça, não tinha face, e
também, não tinha nenhum nome -então vamos chamá-lo de "o menino sem
face".

O menino sem face, também não tinha gosto.
Quando estava com João, brincava de bola, quando
estava com Pedro, brincava de pular e
quando estava com Maria, brincava de bonecas.
Seus amigos também gostavam de dança: quando estava com João
dançava frevo, já com Pedro, dançava as cantigas cantadas
por sua mãe, e quando estava com Maria, dançava tango.

Era assim a sua vida, ora dançando tango com Maria, ora pulando com
Pedro.
Mas num dia, o menino se levantou, e foi procurar seus amigos,
mas descobriu, que a porta estava fechada à chave. Que tristeza!
Querendo ver brincarem os seus amigos, atrás do vidro sujo
da porta, ouvia o som de suas danças e brincadeiras.

A melancolia tomou conta do menino sem face, e ele procurou sentar-se
e chorar.
Sentou-se em uma bonita rede do quintal, cheia de cores que
contrastavam aquela cor triste do céu.
O menino sem face, chorou, chorou, chorou e cansou-se de chorar,
quando então resolveu fazer algo...
Foi ao quarto de sua avó, e lá, atrás daquela porta velha de
madeira, encontrou algo muito estranho: um espelho!
O menino ficou assustado, pensativo, então, o menino olhou
para o espelho com alegria de uma criança
que recebe os braços de uma mãe. Ele tocou o espelho, e mais
uma vez, o tocou. Olhava, olhava tanto e chorava -agora de alegria-
pois finalmente, o menino sem face, descobriu algo que iria mudar
a sua vida:
descobriu que tinha um rosto!

Então o menino correu, correu e encontrou uma pipa e começou a
empiná-la, até, até transbordarem-se suas emoções e descobrir que não
gostava de pular, nem de brincar de bola, nem de bonecas... gostava de
soltar pipa!
Descobriu o menino que gostava de ser livre, gostava de ser
ele mesmo...
Afinal, o menino agora tem um rosto!


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